terça-feira, 1 de abril de 2008

As fotos que ficaram escondidas por 30 anos


Por três décadas, boa parte do arquivo fotográfico do jornal El Popular vagou por dutos e tubulações do edifício que servia como sede para o periódico na capital uruguaia. Os negativos foram escondidos, em 1973, pelo então editor de fotografia, Aurélio Salcedo González, na esperança de que as imagens não caíssem nas mãos do governo militar.
A estratégia funcionou e o material foi encontrado, em 2006, por um jovem uruguaio em uma garagem do prédio. A conspiração que garantiu a integridade física do material não é totalmente compreensível, mas o fato é que as películas salvas reavivaram a memória do país e dos vizinhos.
A história deste reencontro será contada pelo próprio Aurélio Salcedo González que desembarca em Porto Alegre trazendo imagens raras da história política recente e da resistência popular aos governos militares no Uruguai e na América Latina.
O evento marca o lançamento do catálogo da edição 2008 do FestFotoPoa 2008, Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre. Aurélio Salcedo e Daniel Sosa, coordenador do Centro Municipal de Fotografia de Montevideo, estiveram na cidade em janeiro, a convite do festival.
A participação de Aurélio no Festival foi considerada pelo coordenador do FestFotoPoa, Carlo Carvalho, como um dos grandes momentos do evento.
“O retorno do Aurélio a Porto Alegre dá oportunidade de apresentar o catálogo do festival reeditando um dos pontos altos do festival”, disse Carlos Carvalho.
Data: 2 de abril, 18h30Local: Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Andradas, 1223)A promoção é do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, da Secretaria de Estado da Cultura, e da comissão coordenadora do FestFotoPoA. A entrada é franca.
Aurélio González
Era o chefe de fotografia do diário El Popular de Montevideo. Em 1973, frente à iminência de um golpe militar, ele escondeu o arquivo fotográfico no prédio onde funcionava o jornal. O material ficou oculto por mais de 33 anos e foi descoberto em janeiro de 2006.
Aurélio nasceu no Marrocos, em 1931. Militante de esquerda participou de grupos antifranquistas e círculos ligados ao Partido Comunista. Entrou em contato com a fotografia por casualidade e logo começou a trabalhar profissionalmente. A partir da criação do El Popular, em 1957, intensificou sua atividade e fotografou o cotidiano dos bairros populares da capital uruguaia.
Em 30 de novembro de 1973, o governo militar fechou o jornal e proibiu que os fotógrafos continuassem exercendo sua profissão. Aurélio ficou no país até setembro de 1976, quando partiu para o exílio no México, levando imagens que se transformaram em símbolos de luta e denúncia contra o regime militar uruguaio. Em outubro de 1985, voltou ao Uruguai e retomou sua atividade profissional.
Pouco antes do fechamento, Aurélio tentou vários locais para esconder os negativos no próprio prédio em que funcionava o jornal. Desde então, o edifício sofreu duas reformas e alguém mudou a localização do material que só foi reencontrado em 2006. As imagens revelam o cotidiano dos trabalhadores, a movimentação política da capital uruguaia e a reação às mudanças do regime político.
São cerca de 48.188 negativos de 35mm, em bom estado de conservação, operados entre as décadas de 60 e 70, que estão sendo digitalizados pelo Centro Municipal de Fotografia de Montevidéu.
Fonte: Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre - FestFoto POA