A primeira exposição individual no Rio Grande do Sul de uma referência do fotojornalismo brasileiro, Flávio Damm, Preto no Branco inaugura na terça-feira, 5 de agosto, às 19h, nas galerias Iberê Camargo e Oscar Boeira. A mostra celebra os 80 anos que o fotógrafo porto-alegrense completa no dia 7 do mesmo mês, trazendo ao público gaúcho 80 imagens em preto-e-branco e formato médio, registradas ao longo de 64 anos de profissão. A visitação se estende até 31 de agosto, de terças a domingos, das 10h às 19h. Como programação paralela, no dia 6, às 17h, o fotógrafo ministra palestra no Auditório do MARGS, abordando suas memórias e as obras em exposição no Museu. Com a curadoria do próprio fotógrafo, a exposição apresenta 60 painéis com imagens em 20x30cm e 26x36cm, tamanho escolhido em função da proporção com o formato 35mm, filme adotado por Flávio Damm em sua câmera pessoal e também ao longo da carreira, iniciada com suporte 6x6. A exposição traz também algumas imagens desta época, realizadas com o equipamento da revista O Cruzeiro, onde o fotógrafo atuou por 10 anos. Adepto da tecnologia analógica, ele afirma cortar as fotografias apenas no visor. "Ali eu faço o enquadramento e não quero mexer mais. Sou fiel a esse princípio. Não há nenhuma mágica, photoshop, retoque, nada. Aquilo é a minha verdade." Na busca por uma boa foto, Damm realizou mais de 930 viagens pelo Brasil (depois desse número, ele parou de contar) e 67 ao exterior. As andanças geraram um arquivo de 60 mil negativos. Para a exposição, foram selecionadas imagens que constituem uma retrospectiva informal de sua trajetória. A primeira data de 1944 e apresenta um gaúcho e seu cavalo corcoveando. Foi clicada na cidade de Piratini para ilustrar uma matéria de Barbosa Lessa – colega do fotógrafo no curso clássico do Colégio Julio de Castilhos. A mais recente foi feita este ano no Rio de Janeiro, onde o fotógrafo reside desde que se transferiu da Revista do Globo para a revista O Cruzeiro em 1948, depois de ser o único fotógrafo a retratar o ex-presidente Getúlio Vargas durante o período em que se auto-exilou na fazenda do Itu. Uma das imagens de Getúlio, que foram reproduzidas em veículos de Moscou, Paris e Londres, também está na exposição. Fotos com temáticas parecidas foram reunidas em pendants com duas ou quatro imagens. Os casamentos que formam essa unidade curatorial foram realizados no mesmo painel para criar uma leitura do contraste, podendo reunir uma foto feita em Praga e outra feita em Parati, com espírito semelhante. Além do humor e do interesse pelas pessoas e seus relacionamentos, Flávio Damm trabalha com um método particular: o fotógrafo afirma que para os seus registros, se aproxima como um gato, esperando que alguma coisa aconteça, e logo depois da fotografia, foge como um rato – ele afirma não ter conhecido qualquer um dos personagens que registrou. "Nunca falei com ninguém. Não estou pretendendo prejudicar as pessoas, mas também não quero interferência alguma". A preocupação com a composição, o equilíbrio geométrico e o conteúdo é uma constante em sua carreira, assim como o uso do preto e branco. "A foto que não tem cor precisa de muito conteúdo para poder realmente impactar." O artistaNascido em Porto Alegre em 1928, Flávio Damm começou como fotógrafo profissional na Revista do Globo, na capital gaúcha. Foi morar no Rio de Janeiro em 1949, sendo admitido na revista O Cruzeiro, onde permaneceu até 1959. Neste período realizou reportagens no Brasil, América Latina e do Norte e Europa. Cobriu a coroação da rainha da Inglaterra (1953) e a visita da soberana ao Canadá e aos Estados Unidos (1957); a explosão do foguete Vanguard – que levaria ao espaço o primeiro satélite americano, no Cabo Canaveral (1957), e documentou a construção de Brasília, convidado pelo arquiteto Oscar Niemayer (entre 1958 e 1961). Registrou o trabalho do pintor Candido Portinari em seu ateliê no Rio de Janeiro nos dois últimos anos de vida do artista. Fundou o Projeto Portinari em 1976 e dirigiu a Associação Cultural Candido Portinari entre 1995 e 1997. Foi um dos fundadores da primeira agência fotográfica do país, a Image, criada em 1962 com José Medeiros, na qual atuou até 1974. Como fotógrafo independente, trabalhou para a Petrobrás em 1961 e, desde 1974, vem se dedicando à área editorial e a exposições. O seu trabalho já foi apresentado em mostras na França, Suíça, Argentina e Brasil. Tem 16 livros publicados - como Bahia anos 50, Um país em seu tempo e Candido Pintor Portinari – e atualmente prepara a 17ª obra, com 29 histórias curiosas sobre a atividade fotojornalística. É colunista da revista Photo Magazine há seis anos e escreve para o site http://www.photos.com.br./ Segue com o hábito de levar sempre a câmera consigo, registrando pelas ruas o que ninguém mais enxerga. "É preciso sorte, paciência e em última instância talento."